Nessa longa viagem, passando por tantos países, cidades e culturas diferentes, me peguei observando e comparando o trânsito dos lugares que visitei. Mais exatamente, os hábitos das pessoas ao atravessarem a rua. Como estou sendo pedestre todo o tempo por aqui, observar essas coisas não é só questão de curiosidade, mas de vida ou morte! Sempre que possível, agi como uma turista educada e procurei atravessar na faixa – diferente do meu caminhar “ofensivo” nas ruas de Curitiba, hahaha.
Em algumas cidades as pessoas esperam o semáforo abrir para os pedestres (não importa se tem carros vindo ou não). Agora imagine esperar um semáforo demorado num frio de -8ºC na Finlândia sem uma alma viva passando? Enfim, é verdade. E claro, eu que não iria me arriscar a fazer diferente dos nativos! Em alguns cruzamentos o sinal de pedestres abre junto com o dos carros no outro sentido, fazendo com eles tenham que aguardar a travessia pra fazer a conversão – o pedestre, com sinal aberto, tem sempre razão. Isso aqui na Letônia, na Estônia e na Finlândia.
Em Portugal, os carros paravam para o pedestre na faixa, sempre. E também estacionavam em cima da calçada e em fila dupla. Vi carros estacionados na diagonal, porque não cabiam na vaga. O respeito inicial era destruído pelo estacionamento na faixa seguinte. Somado ao trânsito na Itália, compreendi as heranças do brasileiro, mas em geral somos mais evoluídos – e talvez tenhamos um departamento de trânsito mais rígido também.
Atravessar a rua em Londres era sempre atordoante: se não estivesse atenta, olhava pro lado errado e morria ali mesmo. Vi uma mulher atravessando a rua calmamente, olhando para o lado errado, o sinal fechado para pedestres, e o carro freiando em cima dela! Quase cuspi o coração pela boca, e ela, ainda distraída, não percebeu que tinha sido salva pelo destino. Distraídos venceremos? Lá a maioria das pessoas esperam os sinais para pedestre abrirem, e praticamente todo cruzamento tem sinais para pedestres.
Claro que a cereja do bolo europeu, quando se fala em trânsito, fica para a Itália. Eu não sei se o departamento de trânsito perdeu o controle ou se ele realmente existe no país, mas o mínimo que se pode dizer sobre o trânsito na Itália é: o caos. Qualquer lugar, repito, qualquer lugar é lugar para estacionar seu carro. Se você tem um Smart para duas pessoas então, melhor ainda, você cabe até entre um poste e uma caçamba de lixo. Calçada? Pedestres? “Ah, eles são pequenos, maleáveis, eles se viram pra passar!”, eu imagino um desses motoristas pensando… mas claro, não vamos generalizar, sempre tem lugares piores e melhores. As cidades que visitei nessa viagem foram Turim e Palermo, uma no norte e outra no sul.
Em Palermo levei uns três dias pra entender que os carros não iam parar pra eu atravessar enquanto eu estivesse na calçada. Conversei sobre isso com uma americana que estava no hostel, e ela disse que testou a paciência dela esperando 5 minutos até alguém parar pra ela atravessar. E isso não era no meio da rua em qualquer lugar, isso era na faixa de pedestres! Claro que era uma rua grande com tráfego intenso, mas convenhamos… é nessa hora que você precisa aprender com os nativos: se concentra, olha na direção do carro que está vindo, faz aquele cálculo rápido de velocidade e distância, vou ou fico, e vai. Nos últimos dias, eu, que já estava me sentindo uma siciliana, só dava aquela olhada despreocupada pro motorista, como quem diz “eu vou atravessar, se vire aí” e atravessava. Já em Turim, esse negócio de achar que tá por cima da carne seca, que é o pedestre mais maroto da região, não rolou. Como temo pela minha vida (às vezes, não sempre), percebi que era mais seguro esperar os carros passarem, mesmo que isso significasse esperar 5 minutos no meio-fio. E também atravessar na faixa.
E você, tem alguma técnica infalível para sobreviver ao trânsito europeu? E na sua cidade, o cálculo da Nazaré serve pra alguma coisa, ou você ainda confia no semáforo e no bom senso dos motoristas?